Sunday, June 01, 2008

Nina, a gata preta com cara de bolacha

Não tive uma vida nada fácil mas fui feliz a maior parte do tempo.
A minha vida começou como a de quase todos os gatos fruto de uma relação entre uma mãe semi-vadia e um pai que o é completamente. Cumprido o tempo indispensável ao aleitamento fui a escolhida para ser a nova coqueluche de um casal condenado à separação e finda a relação fui adoptada definivamente por uma família de loucos. Bons mas absolutamente desvairados. Foi há 13 anos que me chamaram Nina e me deram quentinho, comidinha e o mimo que eu deixava.
A minha adolescência foi insana. Sempre fui uma gata muito asseada e isso parecia deixar os meus donos contentes e aliviados. Quase orgulhosos. Pelo que percebi mais tarde, de conversas que entreouvi, havia estado lá em casa um vadio demoníaco, que cagava nos vasos e um dia fugiu para gláudio de todos. Mas não pensem que era daquelas gatas moles de trazer ao colo. Não! Eu brincava furiosamente com os braços de quem quer que lá passasse em casa. Eu trepava, cortinas acima, tapete acima, quando aquele tapete persa ainda estava pendurado na salinha que depois seria o quarto com a cama grande. Aquela casa deu tantas voltas... E eu com ela, quantos mortais, duplos e tudo dei eu. Na altura em que a minha dona do meio estava de espírito cientifico apurado e não parava de testar a veracidade da teoria de que os gatos caem sempre de pé, enquanto as torradas caem sempre de manteiga para baixo.
Eu caia sempre em pé. Nem daquela vez que em apanhei um susto do caraças com o susto que a dona-da-comida apanhou quando me viu a passear no parapeito, e em que caí do 1º andar, nem aí me magoei. Elas às vezes esqueciam-se que eu andei lá fora, precisava de conhecer o mundo e as minhas origens, e que se voltei é porque descobri que aquela era A minha casa. Conheço a varanda como ninguém. Sei exacatamente a que horas é o sol bate mais directamente na almofada. Sei exactamente quantos milimetros cresceu a mini laranjeira.
Lembro-me do cheiro do jasmim misturado com o cachimbo do dono, que um dia, como os gatos anteriores, foi embora e não voltou. Foram os meus gatinhos que destruiram o jasmim.Aqueles verdadeiros diabretes. Foi uma agitação lá em quase quando eles nasceram. A meio da noite, um para um lado, o outro a sair... e elas a olhar, emocionadas. Os gatinhos foram, veio o cão.
Tinha 3 semanas e já era do meu tamanho. Ia dar-me trabalho, muito trabalho se eu não pusesse logo as coisas em pratos limpos. Uma arranhadela no focinho e ficou nas minhas patas para sempre. A chegada do Draco marcou o ínicio do fim do meu reinado porque abriu um precedente. Um dia lá me vieram elas com um gatinho branco, à espera de despertar em mim os meus instintos maternais dos quais me tinha já despojado há tanto tempo. E apesar das promessas de que a peste branca não iria ficar, foi ficando e ainda lá está. Durante meses odiei-as e pensei acabar com tudo... Mas depois, fiz as pazes comigo e com o mundo que me rodeava. Enchia o tempo morto, entre as almoçaradas em cima do frigorífico e as festinhas na minha cabeça de bolacha, a dormir relaxadamente ao sol.
E agora que estou perto do fim, quero agradecer às minhas donas, a vida completa e feliz que me deram...

2 comments:

Anonymous said...

Gata preta com cara de bolacha, nunca estarás perto do fim das nossas memórias. Bjs. ST

Anonymous said...

One journey ends another begins.
ci vediamo dopo!