Era uma vez, numa terra não muito distante, num belo fim de uma bela tarde de um belo dia de final de verão, uma cadelinha pastor-alemão e os seus 11 cãezinhos recém nascidos. Na verdade, eram 12, mas nem sequer chegou a fazer parte desta história, porque era o mais fraco, e a natureza nestas coisas não é piegas como o ser humano.
Eram 11 cãezinhos demasiado activos que ficaram demasiado grandes demasiado depressa para aquela cozinha de apartamento, não obstante ser uma boa cozinha, cheia de espaço. A maioria das cozinhas não aguentaria tão bem os ataques selvátivos de urina e dentição de leite de 11 pastor-alemãezinhos já com 3 semanas. Era uma confusão de latinos, pelos e brincadeira, de ração e pequenos montículos de cocó, uns secos outros ainda fumegantes, de uma cadela magérrima e cansada sempre com 2 ou 3 cães pendurados nas tetas e outros quantos à procura de uma oportunidade de almoçar. Não é fácil alimentar aquela bicharada. Nem limpar aquela confusão, sequer. Por isso, também não é difícil perceber porque é que ambas, dona e cadela, se quiseram livrar de 11 crias assim que fosse possível. E com 3 semanas, a hora da separção chegou finalmente.
Era uma vez, nessa mesma terra não muito distante, uma família já disfuncional mas ainda razoavelmente unida. Casa-cheia. As 3 meninas estavam constantemente a evoluir na escala da implicação dos animais de estimação. Primeiro contentaram-se com bichinhos da seda que faziam casúlos e saiam de casa numa estação. Depois 2 hamsters machos - que devem ser o único casal de machos a ter uma ninhada de 9 ou 10 hamsterzinhos. A mãe e os ratos-bebés que sobreviveram à devoração paternal foram recambiados de volta para a loja de animais, fazendo os donos da loja muito felizes por poder vender o mesmo hamster macho, o único no universo a ter parido, duas vezes. Houve 1 cágado que caiu - ou se atirou - do primeiro andar poucos meses depois. Houve 2 gatos que fugiram e uma que ficou e que mais tarde haveria de ter uma ninhada de 4 gatinhos e viver 13 anos muito preenchidos. E agora, ia haver um cão. Grande, que o pai da família, causador das principais disfuncionalidades que haviam de partir a família neste momento ainda razoavelmente unida, recusava-se a ter um cão pequeno.
E, assim, as 3 meninas viram-se numa cozinha cheia de cães e cocó de cão. Como escolher um? São todos tão fofinhos. Há 7 cães e 4 cadelas e as meninas sabem que querem um cão. Todas as cadelinhas são totalmente pretas e, dos machos, todos têm o padrão de pastor-alemãzinho excepto um. O 11º cão. É ele que salta para o colo das meninas e lhes lambe as mãos. É ele que fica com uma cordinha branca à volta do pescoço para o identificar até ao regresso das meninas. É ele que vai, dentro de umas jardineiras de bombazina castanha-escura, para casa da família já disfuncional mas ainda razoavelmente unida.
O 11º cão foi um bom cão durante 11 anos, 11 meses, 11 dias e 11 horas. Foi um cão muito feliz e fez todos os membros da família disfuncional e separada, mas ainda, à sua maneira, unida, muito felizes. Conheceu muitas casas, muitas pessoas, muitas praias e muitos mais gatinhos. Até salvou um. Recebeu muitos mimos, muitos ossos de borrego que foram prontamente devorados e muitas sapatadas por ladrar a tarde toda. Tinha uma música só dele e tudo. O 11º cão foi o melhor cão de todos os tempos. E era meu.
Monday, August 24, 2009
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3 comments:
lembro-me muito bem das jardineiras, dele pequenino, dos irmãos e até das 3 meninas eufóricas por terem um cachorrinho. São só boas memórias que nos deixam e são das melhores da nossa adolescência. Até sinto que foi um bocadinho meu também... beijinhooo
foi um bom cão.. :´(
... E ajudou a unir durante 11 anos, 11 meses e 11 dias as peças de uma família já disfuncional mas solidária à sua maneira...
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