Há certamente uma fórmula qualquer para a felicidade, perdida algures no Universo. Tristemente, os únicos que a alegam ter encontrado são os autores de miraculosos livros de auto-ajuda, tão globalmente disseminados pelos aeroportos do mundo, traduzidos em 114 línguas e 33 dialectos. No entanto, não serão simples formulações de baboseiras, asneiras e piroseiras que publicam semelhantes livros, tão cliché que magoam o intelecto, que conseguirão atingir este propósito. Não. Certamente haverá uma fórmula cientifica para a felicidade, química, física ou fisico-química traduzida numa bonita exressão matemática que explique a complexidade da mente, a perversidade do desejo, o tédio da alma ao seres humanos.
Afinal, a ciência explica tudo melhor. Explicou-nos que não somos o centro do mundo mas somos para o Universo o que um ácaro é para uma casa. Explicou que, quando somos crianças, não queremos cagar porque estamos apaixonadas pelo nosso pai e por isso nos identificamos com a nossa mãe, ou lá o que é. Explicou que o coelho não pode aparecer e desaparecer da cartola, é só um truque de ilusão, afinal, na natureza nada se cria, nada de se perde, tudo se transforma, mas o ar não se pode transformar em coelho e vice-versa. Explica que o sol é só hélio a arder a milhões de kilómetros e não o catarro incandescente de um dragão que fumou demais na noite anterior. Que o arco-íris é apenas o espectro eletromagnético vísivel dividido nos seus diferentes comprimentos de onda pela chuva. Que há dois tipos de fermentação, a láctea e a alcoólica, uma dá o iogurte, outra o vinho. As crianças vêm dos pais e não de Paris. E os cães salivam porque tocamos uma campaínha e não porque simplesmente gostam de nós.
Faz sentido. Tudo isto faz sentido. E o sentido que as coisas fazem, todas juntas ou individualmente, em combinações de 2 a 2 sem repetição ou em clusters são uma seca de merda. Um aborrecimento, para quem é menos fã da actual gíria da geração perdida nos pecados da luxúria, da preguiça, da gula, quanto mais mortais melhor qu o inferno não existe, nem tampouco a eternidade e a vida escasseia e mais vale viver depressa e morrer cedo que deitar cedo e cedo erguer, que isso dá saúde e saúde a mais faz mal à cabeça.
A ciência mata a magia e a magia mata a realidade. Dantes, a religião matava a realidade, oferecia uma espécie de magia alternativa cujo desenvolvimento era da responsabilidade exclusiva de alguns peritos, os scripts e os personagem criados em viagem fantásticas ao mundo do oculto. Para os outros, os normais, a igreja era uma ida ao cinema, uma alienação onde se podiam ver filmes românticos, drama, tragédia, noirs, histórias de incesto e fraternicidio, há lá de tudo, em todas elas, indepedentemente da cor. E a ciência também matou a religião, ainda bem.
Quem me dera ter uma máquina de escrever portátil e um cachimbo e até quiçá uma barba à Hemingway, que, provavelmente, o resultado deste texto seria uma obra magnificamente inspiradora. Apetecia-me o génio do Pessoa, má sorte a dele dominar melhor o português que o inglês, seria bem mais famoso agora se fosse ao contrário, se bem que a ele tanto se lhe dá como se lhe deu, já morreu e não volta, que a vida é ingrata assim, quando vai, por mais nos desfaçamos em desculpas, nunca volta. Ou deverei antes dizer, má sorte a do resto do mundo por não falar português e não poder apreciar o Fernando em tudo o que ele deixou. Apetecia-me saber todas as línguas do mundo e falar com todas as pessoas, pelo menos uma vez. Mas isso é, claramente, impossível. Apetecem-me tantas outras impossibilidades afins como saber falar com cães, teletransportar-me, respirar debaixo de água ou voar. É triste ter consciência do conceito de impossibilidade, saber que NUNCA certas coisas vão poder acontecer fora da nossa cabeça e mesmo que saiam sob a forma de palavras não é a mesma coisa, aqui dentro está tão bonito, se tu visses, eu e o dracão a nadar com baleias gigantes e um arco-íris e os sigur rós a tocar e as baleias a jammar com eles e as correntes, as cores, os cheiros, as estrelas... se tu pudesses ver como o ouro é dourado e o dracão feliz, tenho tantas saudades tuas.
Saudades...
A morte é a maior de todas as impossibilidades porque é uma inevitabilidade irreversível. Game over. No more. Finito. Tchau. És uma massa de matéria em breve putrefacta, espera!, não, podes ser cinza que é nada. Podes ser nada, vês, podes escolher, olha a minha sorte. Não me assusta particularmente morrer, deixar de ser. Custa-me mais que os outros vão. Quem eu amo. Custa-me tanto e o buda lá disse, e com razão, que 2 biliões de chineses não podem ser totalmente parvos, que o nirvana é conseguir sentir o Universo como um todo intemporal. Não foi bem isto, mas eu interpreto mais ou menos assim, quando, ou antes SE ou QUEM, conseguir dissolver em si o tempo, desmaterializar-se da ditadura do passado, presente e futuro, aceitar o Universo como um todo contínuo, aí está o nirvana, a libertação máxima. Porque, no fundo, a vida é como uma chuvada tropical de momentos que cai forte e copiosamente, daquelas em que a chuva parece fios de seda presos do céu, que, na verdade, são uma composição única de gotas de água que nunca mais se repetem mas parecem todas a mesma e que para sempre se dissolvem no solo até se evaporarem e serem chuva outra vez, igual mas diferente. Same same but different, que insightful. A verdade. pufff...
E mais uma vez a ciência mata a magia. Porque magia é em cima das nuvens cinzentas estarem princesas-aranha a tecer uma floresta de fios de seda e a atirá-los às suas amadas primas formigas para que elas subam ao céu para uma festa. E lá vão as formigas, nós é que não as vemos porque não acreditamos na história, somo cientistas e estas fantasias não fazem sentido. A ciência mata a magia porque nós deixamos e nós deixamos porque a escola nos mata a imaginação, professora violeta, juro que vi formigas a subir para o céu nas teias de fios feitas de gotas de chuva porque querem comer o algodão doce das nuvens, são umas gulosas as formigas, ahahahahha, que patetice, isso não não pode ser, anda cá que eu explico-te de que são feitas as nuvens e a chuva e do ciclo da água. E agora olha para os Homens, robots formatados. Sim, vou executar. E laboram como robots programados sem sequer fazer a pergunta que ninguém quer que a gente faça.
Quanto custa? Essa sim, é a pergunta certa. Ganhou a montra final do desejo. Ter ou não ser, eis a questão. E a música toca e se fosse apenas uma sequência de notas dispostas em pautas, que triste seria. Falta a finesse. O feeling. O que nos está na alma e no sangue e nos faz humanos e únicos. E querem-nos calar com dinheiro intra-venoso e ultra-venenoso. Não. A Clara Tehrani diz não. E quem é a Clara Tehrani? Quem sabe...
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