Thursday, January 05, 2012

Manifesto Anti-Crise

Meu querido amigo, que estás deprimido,

Desliga as televisões.
Deita fora os jornais.
Cala os rádios.
Corta a internet.
E morreu-se a crise.

Na realidade, pouco mudou.
O sol nasce todos os dias a leste e põe-se a oeste.
A luz de Lisboa continua a ser das mais mágicas do mundo.
As vielas e bairros góticos do Porto continuam a inspirar poemas.
O Atlântico continua a trazer o seu verde esperança às nossas praias todos os dias.
O vinho ainda é bom e barato.
O pão ainda é estaladiço.
O chouriço ainda sabe ao mesmo.
O tomate tem sabor.
O queijo ainda derrete.

Cospe a propaganda que os media te dão a comer.
Que interessa já não possas comprar todas aquelas coisas que nunca vais usar?
Coisas são só coisas.
Coisas que vão acabar no lixo um dia.
Como as nossas vidas.
Um iPad vale uma depressão?
Uma mossa num carro vale bater na mulher?

Sejamos razoáveis.
Na realidade, o que é que importa?
Sentes-te vazios porque não tens o último plasma da Sony?
Pois aquela velhota do Rés-do-Chão sente-se vazia porque ninguém quer saber se ela está viva ou não.
Fala com ela.
Bebe-lhe a experiência, que ela um dia foi nova como tu.
E foi feliz sem telemóvel.

Correr é de graça.
Dançar é de graça.
Passear na rua é de graça.
Rir é de graça.

Um manguito aos filhos-da-puta que te querem deprimir negando-te um crédito à habitação.
Quantas pessoas cabem no palácio de belém?
Então porque é que só lá está aquela ameixa decrépita se o palácio é nosso?
Quantas pessoas podem viajar no avião que o Primeiro Ministro freta?
Com o nosso dinheiro?
Por isso bardamerda com não haver luzes de Natal.
Ponhamo-las nós nas árvores.
Pirateemos electricidade como se fazia nos anos 80 nos bairros de lata ao lado da minha casa.
Boicotemos os impostos.
Escrevamos no rabo não pagamos.
E não paguemos.

Que o consumismo é invenção desses países nórdicos onde as pessoas são tão frias como os dias.
Nós não.
Nós damos 2 beijinhos.
Nós abraçamos os amigos que não vemos há algum tempo.
Nós choramos no cinema.
Nós somos de verdade e eles querem matar-nos o espírito com consolas.
Metam-nas no cú.
Que nós queremos as nossas crianças a brincar na rua.
Porque é isso que fará delas adultos felizes.

Usemos a cabeça para mais que o shampôo anti-caspa que o Ronaldo anuncia.
As empresas precisam mais de nós do que nós delas.
Cortam-vos o salário?
Cortem o vosso horário.
Estágios não remunerados?
Trabalhar de graça nem os escravos, que ao menos davam-lhes comida e casa.

A minha dignidade não está à venda, muito obrigada.

Se termos escolha entre o patife e o gatuno é democracia,
Então escolhamos anarquia.
Que os governos servem para nos servir.
Não o contrário.

Pode parecer um lugar comum o que digo.
Mas façam o que vos peço.
Desliguem as televisões.
Deitem fora os jornais.
Calem os rádios.
Cortem a internet.
Reclamem o que é vosso.
Reclamem a vossa vida de volta.

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