Saturday, September 05, 2009

do que se tem passado cá dentro nestes meses de silêncio.

Quando eu era miúda, nunca quis ser a melhor do mundo em nada. Talvez porque todas as semanas queria ser qualquer coisa diferente e ser a melhor do mundo em alguma coisa era demasiado comprometedor. Por isso, se nesta torrente de entrevistas que passou por mim como uma ventoínha que roda e areja brevemente uma sala bafienta, se nesta breve espreitadela do olho público na minha vida me tivessem perguntado se eu sempre tinha sonhado ser criativa publicitária, teria que desiludir o moderadamente interessado leitor/espectador e dizer que não. Aliás, provavelmente foi a única coisa que nunca imaginei.

Seduz-me ser criativa. É uma belíssima coisa para se ser – deve ser das poucas profissões cujo nome é um adjectivo. Soa bestialmente bem. É intrigante. É uma profissão que pede complemento directo. Ah sim, que interessante… O que é que vocês fazem? Como é isso de se ser criativo? Não sei dizer. Gosto de escrever e gosto de ter ideias. Sempre gostei… Foi só isso que eu fiz. Gostar. E gostaram de mim. Na verdade, a publicidade escolheu-me mais a mim que eu a ela. Foi simplesmente acontecendo, um bocado por acaso. Ela estava lá, no sítio certo na altura certa e eu fui-me deixando ficar. Era o destino.

Eu acredito na sorte e no karma e na astrologia. E no destino. É assim e pronto, não há nada a fazer… Por mais racional que seja e por mais que ache que nós podemos fazer o que quisermos com a nossa vida, só depende do nosso espírito de iniciativa, também acredito que temos um destino. Bem sei que pode parecer um bocado incongruente. Mas note-se que eu digo destino e não trajecto. Porque podemos ter o Porto como destino e ir pela A1 ou pela A8 e A17 ou pela EN1 ou pela EN2 até, se nos der na bolha, ir de barco ou de avião... Em última análise, é inegável que temos um destino – e é o mesmo para todos. Mas não vamos entrar nas minhas teorias filosóficas ou nunca mais saimos daqui. Afinal, nunca se contradiz um louco.

A minha mãe, quando me apresentava às outras pessoas ou quando falava de mim, dizia essencialmente duas coisas: que eu tinha muita imaginação e que era meia-amalucada. Vamos pôr as coisas em contexto: não há um único artista na família Mota de Castro. Houve as breves lições de pintura e ponto-cruz, talvez até de pianinho, que as meninas da altura da minha avó era costume fazerem e como eram costume, a avó Filomena fez. O mais perto que a minha mãe teve de conhecer um artista foi o meu pai, que tirou cenografia mas que raramente exerceu porque se deixou levar pelo fascínio que a gestão provocava em toda a gente nos anos 70. Por isso, não era preciso ser muito imaginativa para impressionar a minha mão ao ponto de ela achar que eu era uma alicezinha. Havia lá qualquer coisa, não nego. Desde que me lembro que sonho mais acordada que a dormir. A minha cabeça é um labirinto de e ses.

E se um dia eu ganhasse os jovens criativos e depois fosse a Cannes e ganhasse os Young Lions lá? Isso é que era.

A primeira vez que li a minha carta astral tinha 18 anos. Dizia que eu ia ter muito sucesso na minha profissional. A mim, que estava prestes a desistir de um curso de Engenharia sem outro em vista e que tive que me meter num avião para o Brasil para evitar cair no alcoolismo precoce e irreversível, parecia-me difícil acreditar. A vida está-me a tornar cada vez mais crente. Há mesmo males que vêm por bem. E Deus, ou seja lá quem for, escreve mesmo certo por linhas tortas. E não há mesmo bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. E, inevitavelmente, a roda da fortuna gira. O segredo está em saber esperar pacientemente pela mó-de-cima e aproveitá-la bem antes de irmos ao fundo outra vez.

Em retrospectiva, o tempo passa mais rápido do que o que pensámos inicialmente. Para o bem ou para o mal. Mas para quem, como eu, padece de impaciência-compulsiva crónica, não há nada mais aterrador que perceber que o segredo para se ser feliz é, justamente, ter paciência. Porque não há nada a fazer. Não é a remar mais rápido contra a corrente que se sai dela. Não é a querer vir mais rápido à tona que a onda nos vai enrolar menos. Mas quem souber esperar pacientemente pela altura certa para tomar uma attitude, nem demasiado cedo, nem demasiado tarde, aguenta mais e aguenta melhor.

Desta vez aguentei. O momento certo chegou. E eu apanhei esta onda.

“I’ll ride the wave… where it takes me…”

8 comments:

Anonymous said...

Sempre acreditei em ti e no teu potencial. E sempre admirei a tua criatividade, imaginação e capacidade de nunca desistires mesmo quando surgia alguma dificuldade. Portanto tens "what it takes" para chegares onde mereces! Força e também paciência! M

Mariana said...

e se há pessoa que sabe aproveitar ondas, essa pessoa és tu. esta onda leva-te para muito longe de mim (buahhh) mas eu fico por cá a torcer para que a surfes da melhor maneira possível. e sei que sim! tenho o maior orgulho em ti.

Leididi said...

Grande texto miúda. E vais ter sucesso e mais sucesso por esse mundo fora. E vais ser feliz, tão feliz que nem vais acreditar. E nós cá estaremos para ver e bater palmas e dar abracinhos. Boa sorte e dá-lhe com a alma!
beijinhos

Anonymous said...

Vais para onde? Deixa-me tentar adivinhar:

1 - Brasil
2 - Macau
3 - Dubai
4 - States

Beijinhos!

c said...

obrigada minhas queridas!!

caro anónimo, vou para singapura, por isso perdeste a aposta!! ;)

JCoelho said...

Gosto.

made in ♥ love said...

Adorei ler...

Um beijinho
Eduarda
made in ♥ love

L. said...

O chuaah vive!
Vivs o porco também!