Wednesday, August 17, 2011

ela era uma vadia

as pessoas são muito más a serem boas mas muito boas a julgar os outros pela sua malvadez.

Quando o calor aperta ou as frequentes tempestades tropicais atacam de manhã, ou simplesmente, quando o espírito da preguiça possuí o meu corpo, tenho que vir no taxi a ouvir os detestáveis programas de rádio de Singapura. O de hoje era particularmente repelente.

São três locutores a falar um singlish bem acentuado. São três, dois homens e uma mulher. São três retardados sociais, com a mania que são vedetas. Sem ponta de graça. Mas com muita autoridade moral para julgar. Falam como se a sua missão na vida fosse educar os singapurianos a distinguir entre o bem e o mal.

A história de hoje era a de uma mulher que tinha apanhado herpes genital. Ela estava a processar a pessoa que a tinha contagiado em tribunal. Por danos físicos. E morais. E sociais, ou qualquer coisa do género, que o herpes tinha destruído a sua relação com o seu marido. Alegava que a pessoa que lhe tinha passado o herpes sabia-o e não a avisou.

Ok, teve azar, espera-se apenas que a história não com SIDA em vez de herpes - como a SIDA também foi banida de Singapura, como as pastilhas elásticas, é tabu e ninguém fala dela. É, por isso, possível, que, para contar a história, na rádio nacional, os locutores adaptem HIV para herpes. Tem H, é mais ou menos a mesma coisa.

E depois deu-se o fenómeno fantástico de começarem, pela voz da mulher, quem mais, a destruir a da história. Que ela era uma vádia, porque teve relações extraconjugais. Que ela teve o que mereceu. Que ela tem é muita sorte do marido não a ter deixado, cornudo, coitado, isso não se faz, quenga, galdéria, inadmissível!

BOF.

Sabéis vós, por ventura, que estáis em Singapura, um país onde ir às putas é, mais do que legal, um sinal de prosperidade de homens de negócios, que podem ter em casa mas comem fora porque podem pagar. Mas claro que é errado comida comer. Onde já se viu, de repente, a gazela atrás do leão. O rato apanhar a cobra. O peixe atacar o tubarão. Imagine-se. Mas isto é o quê, uma sociedade equalitária?


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