Sunday, May 09, 2010

Porco em Mollho AgriDoce

O mundo não é assim tão grande, nem tão pequeno, antes pelo contrário. E andamos todos aqui ao mesmo, mesmo que a maioria de nós - e eu arriscaria mesmo o escandaloso número de mais de 99% de nós – não saibamos bem ao que é que andamos.

Por exemplo. É certo e sabido que Portugal é um país demasiado pequeno para deixar a alma dos portugueses, que é grande como o mundo, florescer apropriadamente. É como se tivesse o ar lusitano a envenenasse e a tornasse pequenina como um caroço de azeitona. Está visto que não é um problema da alma em si, já que mal esta sai do nocivo ambiente português, consegue feitos notáveis tipo Nobeis da Medicina e da Literatura, e tal.

Ora quando um português sente que o rectangulozinho atlântico a que chamamos casa é bom, mas é pouco, está provavelmente cheio de razão. Nos anos 50, a maioria dos portugueses emigrava; hoje, a maioria dos portugueses expatria-se. Para as pessoas mais desatentas, estas duas formas de renunciar ao país podem parecer iguais. Não são.

Não. Enquanto o emigrante é alguém que migra porque tem que ser, como a cegonha que tem que ir para Sul no rigor do Inverno, e vai com a intenção de voltar, o expatriado, como o próprio nome indica, é alguém que se divorciou da sua pátria por livre e espontânea vontade. Alguém que, pesando prós e contras, decide que o bacalhau não compensa o contar tostões; que o pão, mesmo tendo ele quinhetas e cinquenta mil variações, todas deliciosas e de côdea estaladiça, não compensa o ter vender a alma à mediocridade para ter sucesso. Alguém que chega à triste conclusão que é mais difícil viver em casa do que fora dela. E por isso, o coração do expatriado é sem abrigo: Portugal já não é casa mas Aqui ainda não é. E tem que começar tudo do zero.

Há que aprender a ser feliz na sombra da saudade.

Quando se começa uma nova relação, é quase inevitável cair no erro que mais se devia evitar: comparar. Isto é melhor mas aquilo é pior. Em compensação, antes não funcionava e agora funciona. Mas, será que a compensação compensa? A relva se calhar está a ficar verde lá no quintal de casa. Mas neste quintal crescem flores de formatos zionónicos e cores inebriantes, o que se calhar me faz mais feliz que relva fresca e folhinha e hummm, que boa é no orvalho da manhã mas tão monótona e aborrecida e básica.

O mundo não é assim tão igual, nem tão diferente, antes pelo contrário. E se eu não fosse assim tão complicada, tudo seria mais simples.

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